sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Platoon e a memória da Guerra do Vietnã


A Guerra do Vietnã (1962-1975) foi um dos mais sangrentos conflitos do século XX, deixando um saldo de mais de 1 milhão de vietnamitas e mais de 80 mil soldados estadunidenses mortos. A intervenção militar do exército dos EUA representou a radicalização do conflito e um verdadeiro banho de sangue na antiga região colonizada pelos franceses desde fins do século XIX (a chamada Indochina), e foi iniciada após a independência do país (1954), dividido pela ONU em duas regiões distintas: o Norte (comunista) e o Sul (cujo governo ditatorial era apoiado pelos Estados Unidos). Com a proximidade das eleições que decidiriam os rumos da reunificação do Vietnã e com o forte apoio popular aos comunistas liderados por Ho Chi Mihn, o governo estadunidense decidiu enviar tropas para a região, a fim de evitar o famoso "efeito dominó" que a emergência de um país comunista no Sudeste Asiático poderia proporcionar no âmbito da Guerra Fria.
Apesar de não existir mocinhos nem vilões no processo histórico de modo geral, a Guerra do Vietnã teve dois perdedores básicos: o povo vietnamita, que foi massacrado pelas tropas invasoras, e o exército estadunidense, que teve lidar com o maior fracasso militar de sua história, uma memória traumática que até hoje gera inúmeras e calorosas discussões pelo mundo.
É em meio a este pano de fundo que o filme Platoon foi produzido, no ano de 1986. Dirigido por Oliver Stone e com um elenco de primeira linha, como Charlie Sheen, William Defoe, Tom Berenger, Forest Whitaker e Jonhny Deep, o filme aborda a dura realidade do conflito para os lados envolvidos, desconstruindo a visão lúdica e redentora da intervenção estadunidense no Vietnã transmitida pelos órgãos oficiais do governo dos EUA.
Com enfoque sobre a trajetória no conflito do recruta Chris Taylor, interpretado por Charlie Sheen, são abordados diversos aspectos inerentes à esta guerra, como a postura dos militares em relação aos civis, às hostilidades entre os distintos modos de perceber o conflito entre os próprios soldados do exército ianque, a origem social diversificada dos sujeitos envolvidos, as razões e repercussões da guerra na vida dos protagonistas, entre outros pontos.
Mas o grande mérito do filme com certeza, pelo menos de acordo com meu ponto de vista, é atualizar e discutir a memória sobre a Guerra do Vietnã, com enfoque sobre o modo como ela é percebida por aqueles que participaram direta ou indiretamente das atividades belicosas, e como ela ainda representa uma ferida não cicatrizada no modus operandi da sociedade estadunidense, marcada pela retórica da liberdade, mas que tenta omitir o caráter intervencionista e conservador de suas ações em vários países do mundo; neste caso, o Vietnã.

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